"O buraco da fechadura de Sócrates
Quando se olha pelo buraco da fechadura, pode-se ver coisas que não deviam estar à vista. Mas o que se vê é real.
Henrique Monteiro (www.expresso.pt)
Segunda-feira, 8 de Fev de 2010
Este fim-de-semana o primeiro-ministro fez uma declaração interessante: disse que era contra o jornalismo que espreita pelo buraco da fechadura.
Não se referia ao Expresso, mas a um semanário que foi lançado para combater este jornal. Estou, pois, particularmente à vontade para falar no assunto.
Independentemente de se concordar ou não com o método com que as escutas foram obtidas - e estas foram-no de modo absolutamente legal (embora nem tudo o que seja legal seja igualmente ético) -, as palavras trocadas entre gente próxima de Sócrates, que evoca o seu nome, mostram algo de muito grave: a tentativa de controlar a Comunicação Social e de silenciar aqueles que são incómodos.
Mas as palavras de Sócrates mostram mais um pormenor importante. Vêm confirmar que o assunto existiu e que primeiro-ministro foi nele parte activa. Só assim faz sentido a analogia com o 'buraco da fechadura'. Ou seja, ninguém, ainda que espreitando para locais que não deve, pode ver algo que nunca se passou.
Tendo em conta a confirmação, ainda que involuntária, há que retirar ilações.
Se a Sócrates, a quem competia dar explicações, reage como reagiu, se a Justiça não viu naquelas conversas indícios criminais (e nem tudo o que não é crime é admissível num chefe do Governo), terá de ser o Presidente e o Parlamento a retirar as consequências políticas de uma investigação séria e independente."